Quando a crise se acentua…
J.-M. Nobre-Correia
Diários de referência : Em apenas 11 meses, cinco títulos europeus e um estado-unidense entre os
melhores foram objeto de movimentos que têm algo de inquietante…
A valsa dos
diretores de diários de referência começou em junho. O diretor do parisiense Libération é então forçado a demitir-se
da direção da redação e a de deixar o jornal em fevereiro. Em dezembro, é o do
barcelonês La Vanguardia que é substituído
significativamente pelo diretor de comunicação do proprietário Grupo Godó. Em
seguida, em fevereiro, o do madrileno El
Mundo é despedido. O seu concorrente mais direto, El País, substitui o diretor pelo correspondente em Nova Iorque no
início de maio. Nomeado em julho, o diretor da redação de Libération demite-se em abril. A diretora do parisiense Le Monde demite-se, 14 meses apenas
depois da sua nomeação. Para concluir a série, a diretora do New York Times é despedida e substituída
pelo seu adjunto. E os dias do diretor do milanês Corriere della Sera parecem estar também contados…
Como explicar tal
valsa ? São três as razões avançadas : queda das receitas publicitárias ; forte
erosão das vendas ; difícil transição do papel para o digital. As duas primeiras
têm sido sobejamente evocadas para não serem tratadas aqui. Mas têm uma
consequência trágica para os jornais : a perda de rentabilidade. O que
significa uma perda de independência em relação a grupos de pressão exteriores
à redação.
A questão da
transição para o digital toma aspetos diferentes : dificuldade de adaptação dos
jornalistas do papel ao digital ; reposicionamentos problemáticos das edições
papel e digital ; rentabilidade insuficiente da grande maioria das edições
digitais dos antigos jornais. Sobretudo esta rentabilidade insuficiente está
longe de compensar a perda de rentabilidade da edição em papel.
Os editores encontram-se
cada vez mais em palpos de aranha, à procura de inencontráveis soluções.
Enquanto as redações vão perdendo meios para concretizar a sua função, o número
de redatores baixando, a cobertura da atualidade diminuindo e o preço de venda
aumentando. Desencadeando uma espiral infernal que leva o leitor insatisfeito a
abandonar o “seu” jornal…
Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 24 de maio de 2014, p. 40.
Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 24 de maio de 2014, p. 40.