Colóquios "à portuguesa"…
J.-M. Nobre-Correia
Quando os patológicos atrasos e as não menos compulsivas improvisações, associados a repetitivos exercícios
de hetero-autoestima, fazem de manifestações de cultura feiras de mundanidades
e de vaidades…
Vindo de fora, do estrangeiro, habituado a
colóquios em Espanha ou na Polónia, na Alemanha ou na Itália, o participante em
eventos idênticos em Portugal fica geralmente espantado. Porque são muitas as
caraterísticas que os diferenciam dos congéneres no resto da Europa…
Neste país “à beira-mar plantado”, os colóquios (ou
congressos, conferências,…) começam rarissimamente à hora prevista, mas, de
preferência, com uma boa meia hora de atraso. Depois, os oradores nacionais
começam sempre por fazer grandes agradecimentos a uma série de pessoas, quando
se supõe que já os teriam feito aquando do convite para a participação no
colóquio.
Muito rapidamente, o público mais atento apercebe-se
que boa parte dos oradores não preparou seriamente as intervenções : falam de
improviso, de maneira largamente desconexa, sem fio condutor algum, sem
elementos fatuais a apoiarem o que afirmam.
Para além desta incoerência manifesta, os oradores
nacionais desfazem-se em homenagens a uns e outros personagens presentes na
sala. Esperando, é claro, que outros em seguida dirão que eles também são verdadeiras
sumidades, pequenos génios comparáveis aos melhores.
Paralelamente, vão os oradores nacionais alinhavando
citações de um e outro autores ou personagens célebres. Citações que,
manifestamente, constituem uma ostentação de erudição mundana, mas também uma
tentativa de confirmação das afirmações avançadas.
Claro está que, em regra geral, os oradores são
incapazes de respeitar a duração de tempo prevista para as intervenções. E
quando estas dão depois lugar a debates, a perguntas e respostas, ouve-se de
novo um florilégio de lisonjas, o interveniente na sala esperando que o
homenageado, em breve, lhe reenvie o ascensor e lhe preste a devida homenagem
!…
Entretanto, os atrasos foram-se alongando
descuidadamente e, fora da sala, as pausas-café (perdão : os “coffee breaks” !)
foram-se interminavelmente (e, com um pouco de sorte, saborosamente) arrastando…
Muitas das vezes, hélas !, os colóquios em
Portugal são de facto meras feiras de mundanidades e de vaidades em que as
intervenções de qualidade, devidamente preparadas e documentadas, são raras. E quantas
vezes muitas dessas intervenções de qualidade vêm prioritariamente de
participantes estrangeiros ? Mas, é claro, há sempre honrosas exceções que levam
os participantes a acreditar que até há “santos da terra” em Portugal que
“fazem milagres” : abençoadas sejam eles !…