O novo príncipe dos média


J.-M. Nobre-Correia

Depois das telecomunicações e das redes de cabo, Patrick Drahi passou a interessar-se por televisões, diários, magazines e rádios. E em apenas um ano e meio provou que as ambições nesta matéria são bastante grandes…

Muito se tem falado nestes últimos meses de Patrick Drahi e de Altice, desde que esta se candidatou à aquisição da PT Portugal. Há no entanto um aspeto das atividades de Drahi que parece ter totalmente escapado aos jornalistas : o da sua implantação cada vez maior no sector dos média. Com o que isto significa em termos de estratégia com diferentes vertentes.
Nascido em Marrocos, Drahi é um homem de negócios que dispõe das nacionalidades francesa e israelita, estando porém domiciliado fiscalmente na Suíça. Criador em 2001 da sociedade luxemburguesa Altice, está hoje presente nas telecomunicações e nas redes de cabo, mas passou mais recentemente a interessar-se pelos média ditos tradicionais.
Em julho de 2013, Drahi lançou assim I24news em Israel, televisão de informação contínua em árabe, francês e inglês, que procura ser “uma alternativa a Al-Jazira” e “mostrar o verdadeiro rosto de Israel ao mundo, sem ser um instrumento de propaganda”. Uma iniciativa que tem manifestamente um certo cariz militante e de fidelidade às origens culturais do seu criador.
Já a entrada no capital de Libération, um ano depois, responde a preocupações diferentes. Em crise financeira profunda, o diário parisiense foi objeto de operações capitalísticas diversas em 2013 e 2014, tendo a última consistido precisamente na tomada de controlo de 50 % da sociedade de edição por Drahi, em julho de 2014. Iniciativa que, dizem próximos do dossiê, é devida ao facto que Drahi quis “ajudar um título de que muito gostava”…
Prosaicamente, a motivação terá sido outra. Por ocasião da batalha contra o Groupe Bouygues para a aquisição da francesa SFR, em abril-maio de 2014, Drahi tomou consciência de ser globalmente um ilustre desconhecido em França. E constatou que tanto o “establishement” como o governo francês tinham apoiado Bouygues, largamente presente no sector dos média, nomeadamente com o grupo TF 1. O que significava, para Drahi, que ser proprietário de um grupo de média permite dispor de apoios essenciais para as iniciativas de um homem de negócios.
Terceira etapa decisiva : a compra anunciada do semanário francês L’Express e dos mensários L’Expansion (economia), Lire (literatura), Classica (música) e Studio Ciné Live (cinema). Um conjunto de magazines (a que vinham acrescentar-se mais alguns outros) que o grupo belga Roularta adquiriu por 220 milhões de euros em 2006 e venderia agora por uns modestos 25 milhões. Valores que refletem claramente a crise da imprensa iniciada pouco depois da compra por Roularta, grupo que perdeu 57,9 milhões de euros em 2013, devido sobretudo aos magazines franceses.
Nesta nova dinâmica de Altice, anuncia-se desde já a próxima aquisição da francesa Radio Nova. Mas também a constituição de um grupo plurimédia, com a criação da sociedade Mag&NewsCo, detida por Drahi e pelo seu sócio Marc Laufer, que “integrará a televisão, a rádio, a imprensa escrita, o digital e o móvel”. Até porque, segundo os seus promotores, as telecomunicações e os média não são afinal áreas profissionais assim tão distantes…
Os jornalistas de Libération (de centro esquerda) e de L’Express (de centro direita) manifestam desde já preocupação. Tanto no que diz respeito às sinergias editoriais entre os dois títulos, que se aparentam bastante problemáticas. Mas também no que se refere à prática de “custos baixos” caraterística das empresas de Drahi, que poderá anunciar novas vagas de despedimentos nas diversas publicações.
Num contexto caraterizado pela fragilidade de bom número de média, o reforço da posição de Altice em Portugal levará provavelmente Drahi a interessar-se pelo sector. Sobretudo se os média nacionais não servirem docilmente de câmara de eco à sua estratégia e às suas ambições. E há por aí tantos média à espera de um reforço substancial do capital das suas empresas…

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