Uma subalternização evitável
J.-M. Nobre-Correia
Média : No grupo Impresa, onde o Expresso
é o navio almirante, a Visão é claramente
considerada como publicação de complemento em relação àquele. O que traduz
uma estratégia de curta vista, pouco ambiciosa…
Contrariamente ao que por vezes por aí se escreve,
o magazine Visão não foi lançado pelo
grupo Impresa de Francisco Pinto Balsemão. Foi-o sim por Edipresse, depois da
tomada de controle do semanário O Jornal
pelo grupo suíço. O novo proprietário decidiu então encerrá-lo e, meses depois,
em março de 1993, proceder ao lançamento do novo magazine. E só depois de duas
mudanças no capital da editora é que a Impresa tomou o controle da Visão.
A passagem sob o controle do grupo editor do
semanário Expresso constituía de
certa maneira uma garantia de futuro para o magazine. Mas ao mesmo tempo punha
a Visão numa posição subalterna em
relação ao Expresso, navio almirante
do grupo e menina dos olhos do seu fundador e primeiro diretor, Pinto Balsemão.
A Visão
passou assim a ser um semanário pouco performante em termos de informação
exclusiva, como de dossiês originais ou de análise consistente. Um magazine repleto
de curtas unidades redatoriais largamente desprovidas de interesse, mas também
de textos inadequados provenientes do diário espanhol El País ou do magazine da direita estado-unidense Time. A que vêm acrescentar-se alguns
raros textos capazes de marcar a atualidade editorial da semana.
Mas, nestes últimos anos, a Visão pôs sobretudo em evidência o facto de os seus responsáveis
não terem compreendido que um “newsmagazine” não pode continuar a ser concebido
como o era há uma vintena de anos. Que a internet obrigou os antigos diários a adotarem
temáticas e estilos de escrita que eram característicos dos magazines, e que os
periódicos (semanais, quinzenais ou mensais) foram levados a praticar também a
informação em linha, muitas vezes em tempo real e de maneira puramente fatual.
Só que é legítimo perguntar se os responsáveis da Visão não compreenderam ou não puderam
compreender esta evolução, imposta que lhes poderá ter sido uma estratégia de
grupo em que o semanário por excelência é o Expresso.
Pergunta a que se poderá agora acrescentar outra : ao nomear como novo diretor
da Visão um antigo diretor-adjunto do
Expresso (o que o levará a descer “no
mesmo edifício, dois pisos abaixo”, como o próprio escreve), será esta a melhor
maneira de provocar a viragem editorial que se impõe, no digital (onde atualmente
quase não conta) como no papel ?
É que, no seguimento deste profundo baralhar de
cartas a que a internet obrigou os diários como os periódicos, um
“newsmagazine” tem que reposicionar-se agora na investigação, na reportagem, nos
dossiês, na análise e no debate de ideias. E com todos estes conteúdos de
qualidade, mais elaborados, mais longos, numa escrita e numa iconografia
marcadas pela virtuosidade e pelo talento. Reservando para a edição digital a
atualidade “quente”, imediata, devidamente tratada numa versão multimédia e
participativa.
O aparecimento da internet e do universo digital
condenou à morte numerosas publicações, como consequência da queda das vendas e
das receitas publicitárias. Até porque o fluxo de informação em linha se
transformou em torrente incontrolada, facilmente acessível de maneira
largamente gratuita. Pelo que só as publicações que se vão adaptando,
acentuando especialização, diferenciação e sensibilidade própria, capazes de inovar
perante a nova arquitetura mediática, sobrevivem ou se impõem, respondendo assim
aos novos comportamentos e às novas necessidades dos leitores…