Interrogações e incertezas várias

J.-M. Nobre-Correia
Média :Uma primeira operação foi concretizada. Mas as negociações para a venda doJornal do Fundão parece terem encalhado num impasse…
Na série de textos aqui publicados sobre o futuro do Jornal do Fundão[1], houve um elemento que não foi frisado e que o deveria ter sido. Aquele que consistia em dizer que a operação de compra-venda da empresa editora deveria operar-se em dois tempos. Num primeiro tempo era a Global Média, acionista maioritário que tomaria o controle das ações detidas pelas filhas de António Paulouro. E só num segundo tempo é que a Global Média procuraria vender a totalidade ou a maioria da sua participação aos potenciais candidatos. Ficando no entanto a porta aberta a outros possíveis compradores, caso não houvesse finalmente entendimento com os atuais.
Entretanto foi publicado o anunciado texto na primeira página do Jornal do Fundão (“Fim de ciclo”) assinado pelas irmãs Maria Teresa e Maria José Paulouro, e pelo primo Fernando Paulouro Neves. Um texto puramente hagiográfico e claramente saído da pena de Paulouro Neves. Mas um texto em que faltava evocar dois aspetos fundamentais para que os leitores compreendem-se o que se passava : as razões da venda em 1998 da maioria do Jornal do Fundão por António Paulouro ; e as da venda atual da minoria pelas suas filhas.
Claro que, no primeiro caso, não se estava à espera que nos fossem desvendadas as condições em que foi realizada uma venda à Lusomundo (o principal distribuidor de filmes do país), em que intervieram indiretamente António Guterres, então primeiro ministro, e muito diretamente Manuel Roque, genro de António Paulouro e, na altura, presidente do conselho de administração da RTP. E no caso da segunda, a situação financeira atual do Jornal do Fundão e do défice de cerca de um milhão de euros.
Pelo caminho ficaram também episódios como o da venda do Jornal do Fundão a Agostinho da Silva, da Torralta, anunciada pelo Expresso antes do 25 de Abril …e de que nunca mais se ouviu falar depois do regresso da democracia. Ou da tentativa de constituição de uma cooperativa, para a qual contribuíram muitos amigos do Jornal do Fundão …aos quais foi devolvido anos depois o dinheiro investido, o escudo tendo entretanto perdido muito do seu valor e os juros prometidos nunca tendo sido afinal remetidos aos potenciais cooperadores.
A publicação do texto de primeira página na edição de 19 de abril deu porém lugar a uma operação de comunicação bastante laudatória junto dos média ditos nacionais. Não impedindo estes de fazer por vezes afirmações desprovidas da devida factualidade, nomeadamente em termos de tiragens e de vendas. Ora, o último Boletim Informativo da APCT (Associação Portuguesa para a Controlo de Tiragem e Circulação) publicou números bastante precisos sobre o bimestre de janeiro-fevereiro : tiragem 10 242 exemplares, vendas em banca 1 239, assinaturas em papel 6 135 (ou seja : circulação impressa paga 7 374), ofertas 590 (ou seja : circulação impressa total 7 963). As estes dados da edição em papel vêm a acrescentar-se 142 assinaturas digitais. O que dá uma circulação total (papel e digital) de 8 105 exemplares. Números nitidamente em queda desde há muitos anos e que não são apenas da responsabilidade da atual direção do jornal.
Passado este primeiro momento de efervescência, o que importa agora saber é quem virão a ser realmente os futuros proprietários do Jornal do Fundão. Convirá sobretudo está atento ao facto de saber se, por detrás deles, haverá quem puxe os cordelinhos em função de interesses não anunciados e pouco jornalísticos. Ou se se tratará de verdadeiros profissionais preocupados antes do mais em praticar um autêntico jornalismo de fundo em prol da região…
Enquanto vamos esperando que o mistério seja desvendado, as negociações com os candidatos conhecidos parece terem sido suspensas, nomeadamente por divergências sobre os montantes financeiros da operação. O que leva a Global Média a abrir de novo o leque das opções, incluindo a de continuar a editar o Jornal do Fundão com uma nova direção…


[1]Ver a este propósito J.-M. Nobre-Correia, “Em vésperas de vida nova…”, in Notas de Circunstância 2, 28 de fevereiro de 2018,
J.-M. Nobre-Correia, “Em fase de grandes manobras”, in Notas de Circunstância 2, 14 de março de 2018,
J.-M. Nobre-Correia, “Do hermetismo à transparência”, in Notas de Circunstância 2, 13 de abril de 2018 e
J.-M. Nobre-Correia, “Fim de um longo capítulo”, in Notas de Circunstância 2, 14 de abril de 2018.
A publicação destes textos levou ao corte do serviço de “oferta” do jornal ao autor desde 1965, durante mais de 52 anos ! “Oferta” justificada pela colaboração gratuita (nomeadamente na página de informação sobre o Fundão), de novembro de 1963 a maio de 1965, e, em seguida, pela colaboração episódica igualmente gratuita. Só na última fase, como cronista quinzenal de janeiro 2010 a novembro de 2013, tive o privilégio de ser um dos quatro colaboradores exteriores de então a serem remunerados…

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